É indiscutível que as transformações provocadas pelas novas formas de vida, impostas pela evolução tecnológica e a globalização da economia, a segmentação dos mercados, etc., impõe uma nova visão de muitos dos antigos problemas sociais e culturais e de vida nas cidades. Numa palavra, a crise está instalada. Crise de modelos de vida, crise das próprias sociedades no seu todo e crise nas formas de solução antes defendidas. Contudo, na sua essência, os problemas gerados por esta crise mantêm-se os mesmos e até se agravaram para largas camadas da população.

É muito difícil argumentar contra a constatação, que podemos verificar quotidianamente, de que o grau de civilização alcançado se pode avaliar pelo número de aparelhos electrónicos (máquinas de lavar, frigoríficos, televisões, etc.) que são utilizados, pela capacidade em «fugir» das cidades aos fins-de-semana para se recuperar do stress semanal (aliás, situação reservada a uma minoria de privilegiados) ou pelo número de automóveis, de maior ou menor cilindrada, que são utilizados. De facto, todos estes elementos não são capazes de esconder, para quem os desejar ver, problemas essenciais que se referem, fundamentalmente, a três grandes grupos de questões: a degradação permanente do meio ambiente, em relação à qual, no presente, ninguém pode negar estar em agravamento catastrófico; a marginalização de enormes grupos sociais, que traduz um processo de desigualdade e de injustiça no acesso a formas de vida realmente humanizadora (desemprego, acesso à cultura, insucesso escolar, etc.) e o mal estar da abundância para os outros grupos criada pela lógica do consumismo desenfreado.

Os antigos problemas da exploração, da marginalização e exclusão sociais, da falta de equidade no acesso a direitos fundamentais, e, inclusive, da pobreza em agravamento, mantêm-se na sua essência, ainda que assumindo agora novas formas de expressão social.

De facto, os índices de avaliação que nos interessam referem-se ao estado das escolas e do próprio ensino que nelas se pratica, à resposta aos problemas de saúde referida a toda a população, à qualidade e à quantidade dos espaços verdes das cidades, à situação em que se encontra a água e o ar, à qualidade dos alimentos e, essencialmente, no acesso ao trabalho digno, justamente remunerado e garantido a todos os indivíduos adultos. Se considerarmos todos estes elementos, e outros aqui não referidos por falta de espaço, como estruturando a tão celebrada «qualidade de vida» cuja avaliação permite, de facto, determinar o grau de satisfação das necessidades humanas, reais e não artificialmente criadas pela publicidade, percebemos então qual o grau de civilização alcançado.

Ora, a questão das necessidades humanas é fundamental para aquilo que aqui nos interessa. Como se sabe é um problema de difícil solução tratado há longo tempo por uma multidão de autores.

Mas, no presente, sob um ou outro aspecto, parece indiscutível que se podem dividir em três grandes grupos: necessidades básicas (condições básicas de qualidade de vida), necessidades intermédias (que correspondem à integração no grupo em que avulta, pela sua importância, a garantia de emprego estável, de formação permanente, de manutenção das condições psico-físicas, etc.) e as necessidades superiores que se referem à vontade de afirmação, de realização pessoal, de equilíbrio psicofísico, enfim, de humanização total da vida.

Nestas últimas e também já nas anteriores é que se posicionam as necessidades de associativismo como forma de integração e afirmação social, partilha da cultura e participação nas decisões que, de uma ou de outra forma, podem afectar a existência de cada indivíduo em si.

Não nos enganemos: os grupos de necessidades referidos não se dispõem por níveis e não se podem definir em termos hierárquicos e em sequência de importância relativa. Todos eles constituem um todo que só a necessidade de análise e resposta, exige que se agrupem e distingam. Estas são as necessidades que exigem resposta para que a vida do indivíduo se humanize em plenitude.

O associativismo faz parte integrante desta resposta, aliás, cada vez mais imperativa devido às características actuais das sociedades.

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Fonte: jornal Avante!