O temor de que a retomada do crescimento na Europa alterne altos e baixos e aconteça em “W”, como prevê Nouriel Roubini, está no ar. Dados divulgados nesta quarta-feira, 12, em Bruxelas, pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat) revelaram que, depois de voltar a crescer no segundo semestre de 2009, as economias do bloco agora estão próximas à estagnação. No primeiro trimestre de 2010, os países do bloco avançaram em média 0,2%. Dentre 12 países analisados, cinco apresentaram queda da atividade e nenhum cresceu mais de 1%.

Açoitada pelo mercado financeiro durante os cinco primeiros meses do ano, um período marcado pela crise de liquidez da Grécia e pelas especulações sobre Portugal e Espanha, a Europa pena para consolidar sua recuperação. Nas seis maiores potências da região, o crescimento entre janeiro e março foi próximo a zero.

O melhor desempenho foi registrado na Itália, que progrediu 0,5%. Na Alemanha, no Reino Unido e na Holanda, primeiro, terceiro e sexto maiores mercados do bloco, o incremento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 0,2%. Na França e na Espanha – que deixou, enfim, a recessão -, o crescimento se limitou a 0,1%. Para efeitos de comparação, no mesmo intervalo de tempo o PIB dos Estados Unidos cresceu 0,8%.

Cinco países, dos 12 que já disponibilizaram dados, apresentaram recuo: Lituânia (-4,1%), Estônia (-2,3%), Grécia (-0,8%), Romênia (-0,3%) e Chipre (-0,2%).

O desempenho pífio se reflete na média dos 16 países da zona euro e dos 27 da UE: crescimento de 0,2%. Comparado ao primeiro trimestre de 2009, o cenário fica um pouco mais positivo: 0,5% para a zona euro e 0,3% para o bloco.

Com um discurso otimista, autoridades do mundo financeiro vieram à público externar convicção sobre a boa performance da união e a estabilidade da moeda única. Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), afirmou estar “mais do que confiante” sobre o futuro do euro e sobre o crescimento, mesmo acompanhado de maior vigilância nas contas públicas.

Para Christian Noyer, presidente do Banco da França – a autoridade monetária do país -, os planos de rigor em fase de preparação ou já anunciados por França e Reino Unido, Grécia, Portugal e Espanha, não retardarão a retomada porque trarão de volta a credibilidade. “Mais confiança significa um nível de consumo e de investimento mais normais, e tudo isso facilita o crescimento”, argumentou.

Somados, o otimismo das autoridades e as estatísticas “não negativas” do Eurostat foram suficientes para animar o mercado financeiro ontem. Em Frankfurt, a alta chegou a 2,41%, enquanto em Paris e Londres houve mais cautela: 1,1% e 0,9%.

As estatísticas, entretanto, não seduzem analistas econômicos, que se mostram reticentes apreensivos com o momento econômico da Europa. “A zona euro está sendo deixada para traz pelos Estados Unidos, que está experimentando uma forte retomada em ‘V’”, afirmou ao jornal Financial Times Nick Kounis, economista do banco holandês Fortis. O temor é de que, após a franca recessão de 2008 e do primeiro semestre de 2009, a interrupção do ciclo no segundo semestre do ano passado possa ter sido apenas por um movimento de reestocagem, que teria impulsionado a indústria. O cenário configuraria estagnação ou, no pior dos casos, recuperação em “W” – alvo de advertências recentes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A esperança dos economistas é de que, com o aquecimento de emergentes como China, Índia e Brasil e a retomada norte-americana, as exportações possam consolidar sua recuperação, acelerando o crescimento no segundo trimestre. Essa hipótese beneficiaria a Alemanha e, em menor escala, a França. “O ciclo alemão parece mais maduro, graças à maior sensibilidade ao dinamismo do crescimento no resto do mundo, marcado pelo reaquecimento na Ásia”, diz Philippe Waechter, diretor de pesquisa econômica do banco Natixis. Para Olivier Gasnier, do Société Générale, “na França, a saúde virá do comércio exterior porque, com a chegada do aperto fiscal, a demanda interior não sustentará o crescimento”.

Por ora, a Comissão Europeia continua a prever um ano melhor. Em 2009 o PIB da zona euro encolheu 4%. Neste ano, a perspectiva é de 0,9% e 1,5% em 2011.

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Fonte: jornal O Estado de S. Paulo