Os acontecimentos em curso têm lógica, motivação e, não me perguntem como, comando de execução.

Tiros na caravana de Lula, ex-presidente a quem se deve assegurar a proteção do Estado; tiros que mataram Marielle Franco no Rio, em aberta provocação à democracia e às Forças Armadas; e as pressões ameaçadoras sobre a família do Ministro Edson Fachin do STF, são “marcadores” que indicam um tumor em expansão, fartamente irrigado, certamente maligno.

O tumor fascista que atenta contra a democracia, instila o ódio e a intolerância. Facínoras covardes apertam os gatilhos, como os do antigo Comando de Caça aos Comunistas, ou manipulam os cordéis. E as instituições, ou melhor, aqueles que devem zelar pelas instituições e pelo Estado democrático de direito?

As respostas que se apresentaram por parte dos setores governantes deixam qualquer um pasmo. O governo Temer omisso em suas obrigações, o Congresso paralisado, o Judiciário perdido em disputas ao sabor de interesses políticos indevidos. E a Segurança Pública? Tomei conhecimento de uma declaração de integrante da PM que fazia a manutenção da ordem no evento com Lula em São Leopoldo (RS): “Vocês estão aqui hoje e amanhã já se vão. Os manifestantes (pedras e ovos) ficarão aqui e eu terei que conviver com eles o resto do tempo. Fazer o quê?” Aí reside a mais completa desordem institucional.

A maior demonstração do transformismo que é – como tenho afirmado reiteradamente – tais forças se apresentarem como “centristas” no espectro político foram declarações de Alckmin e Dória incendiando a pradaria. Foi digno dos mais indignos atestados de recusa do pacto democrático que a nação requer. O desdém deles e outros são adubos para o caos. Saudades de Mario Covas ou de Claudio Lembo, que tinham de fato a convicção democrática.

O mais importante é que esse curso das coisas integra um quadro mais largo e fundo, que é tumultuar as eleições, cevar medidas excepcionais contra sua realização. Como sempre dissemos, eleições livres não estão asseguradas! Portanto, as respostas precisam ser largas e fundas, ir muito além da polarização entre esquerda e fascistas.

A hora é grave, poucas vezes se assiste a esse estado de coisas na vida de nações grandes e complexas que vivem em ambiente democrático. Os democratas não podem assistir a isso distraidamente. Eleições livres serão o antídoto mais imediato, não só em defesa da ordem constitucional como também fator de mobilização política do povo brasileiro em torno de esperanças de um novo futuro.

Walter Sorrentino é vice-presidente do PCdoB e membro do Conselho Curador da Fundação Maurício Grabois.