Como diz na página:

“A USP está na 29ª colocação no Webometrics Ranking of World Universities 2014, que considera os conteúdos disponibilizados na internet, especialmente aqueles relacionados a processos de geração e comunicação acadêmica de conhecimento científico. A Universidade está em 1º lugar também no ranking Webometrics que avalia somente as universidades da América Latina e no que classifica os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)”. (www.usp.br)

Fato é que desde 2014 a USP foi só perdendo posições em diversos rankings mundiais, inclusive para universidades brasileiras também em crise. Um exemplo recente é o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que sofreu cortes de 50% de seus recursos, perda de pesquisadores, sucateamentos e outros problemas, segundo dados do Ministério da Educação (MEC) e sites de notícias ¹.

Um dos fatores em destaque para as perdas de posição da USP no ranking das melhores universidades do mundo é a baixa internacionalização – ponto fraco comum nas universidades brasileiras. É notória a baixa capacidade em atrair professores e estudantes de outros países para nossas universidades de modo geral, mas a USP ficou em última posição nesse quesito, segundo dados do Sowter, destacado pelo O Globo nas tabelas abaixo: 

 

Vejam a lista das 10 melhores Universidades do mundo:

 

Fonte: O Globo

Segundo análise da Sowter, no jornal O Globo, o Brasil focou mais na inclusão de estudantes e deixou de lado a internacionalização, ao contrário do que se faz em outros países. Também os baixos investimentos em pesquisa são agravantes tanto na esfera educacional quanto na de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), deixando o país na retaguarda mundial.

Os rankings não são sistemas absolutos da realidade das universidades, mas servem para apresentar os dados comparativamente e proporcionarem reflexões e busca de melhores condições educacionais e de pesquisa seja nos Estados seja em nível Federal. Vemos que as baixas classificações da USP, tida como a melhor do país, refletem as crises enfrentadas no Estado de São Paulo, que seguiu em fluxo contrário ao dos investimentos federais na educação superior.

Sucateamento das universidades paulistas

As universidades paulistas, Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp), sofreram estrangulamento em seus recursos no período dos governos do PSDB, em especial no ano de 2014, passando por uma profunda crise financeira. Desde 1989 que as universidades conquistaram sua autonomia administrativa e financeira e os repasses de cada governo nunca foram suficientes para suprir as despesas das universidades e os fundamentais investimentos em pesquisa. Para agravar a situação houve ainda um congelamento de duas décadas dos 9,57% do orçamento estadual, além de cortes nesse repasse às três universidades.

Foi preciso que professores, funcionários e estudantes lutassem muito, fizessem greves e movimentos contra os processos de cortes e sucateamento pelo qual as reitorias e os governos tucanos deixaram passar as universidades paulistas. A situação esteve crítica ao ponto de fecharem laboratórios de pesquisa, cortarem aulas, redução de ajudas sociais aos estudantes, cortes e fechamento de unidades das creches destinadas aos filhos de funcionários e alunos, cortes das bolsas de pesquisa e vários problemas estruturais, como iluminação e segurança deficitárias. Foram vários os confrontos nas manifestações de estudantes, professores e funcionários com a Polícia Militar dentro dos campi das universidades, na tentativa de coibir o livre direito de pleitear melhores condições para a educação superior no Estado de São Paulo.

Um agravante à situação foi a expansão de vagas, com a criação de mais 8 campi da Unesp com apenas um curso em cada unidade e sem aumento dos recursos repassados pelo Estado. Medidas que serviam como justificativas dos reitores ao não aumento dos salários. Paralelo a isso fica a sombra da privatização como solução milagrosa para todos os problemas, de modo que só uma elite teria condições de manter-se nessas universidades. Situação completamente oposta a das universidades federais que viveram um ápice de investimentos na última década com os governos progressistas que expandiram as unidades de ensino federais, aumentaram as vagas de estudantes, expandiram os campi existentes, tiveram aumento de salários, contrataram mais professores, melhoraram suas instalações e laboratórios.

Outra questão delicada vivida nas universidades do Estado de São Paulo é a costumeira falta de transparência das reitorias com suas decisões e gastos sem bom diálogo com a comunidade acadêmica e com a de funcionários. Inclusive a falta de democracia na escolha dos reitores é histórica, o que acaba refletida nas atitudes desses reitores. Agora, em 30 de outubro de 2017, a USP elegeu seu novo reitor e pró-reitor, Vahan Agopyan e Antonio Carlos Hernandes, com 1.092 votos da comunidade, nomeados em novembro pelo ainda governador Geraldo Alckmin. A nomeação da nova reitoria abriu novas esperanças, possibilidades e diálogo com a comunidade acadêmica e os representantes dos estudantes, já que a aprofundada crise financeira fora superada e que se vislumbram novos investimentos… a ver! Aguardemos os embates sobre o hospital universitário e seu possível desligamento orçamentário da USP e outros pontos sobre salários, etc.

E as cotas na USP?

Após anos de resistências a USP aprovou pela primeira vez cotas raciais em seu vestibular, Fuvest 2018 e Sisu (Jornal da USP), todavia, ainda de maneira parcial, por cursos, como é o caso do de Direito. Seguindo na contramão a USP ainda resiste à adesão de cotas de inclusão de estudantes em seus cursos, ao contrário das demais universidades brasileiras que foram aderindo à política de cotas.

Em 29 de agosto de 2012 consolidou-se a Lei 12.711, Lei de Cotas, que tutela 50% de suas vagas a estudantes segundo critérios sociais e raciais para instituições federais de ensino em nível médio, técnico e superior – a Lei não delibera sobre as instituições estaduais.
A inserção de políticas afirmativas na USP só foi possível depois de muita luta de vários movimentos sociais e das entidades representantes dos estudantes. Ano passado a votação do Conselho Universitário foi histórica e vitoriosa para a luta em favor das cotas, visto que obteve mais de 80% dos votos favoráveis.

Apesar de tudo, a inserção de cotas na USP aumentará gradativamente ano a ano, chegando a 50% somente em 2021. Um ano antes de a Lei 12.711, Lei de Cotas, ser revisada, completando seus dez anos em 2022. De acordo com o Art. 7º da referida Lei: “No prazo de dez anos a contar da data de publicação desta Lei, será promovida a revisão do programa especial para o acesso às instituições de educação superior de estudantes pretos, pardos e indígenas e de pessoas com deficiência, bem como daqueles que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas”.

Bom, assim como a Lei federal não imprimiu uma mudança na política da USP reservando cotas raciais e sociais, talvez em 2022 a revisão da Lei Cotas também não a inspire em mudar sua política afirmativa de reserva de vagas, pois se espera que até lá tenhamos uma universidade mais universal, democrática e acessível do que é hoje.

Referências:

CBN: ¹ http://cbn.globoradio.globo.com/especiais/universidades-em-crise/2017/07/11/EM-MEIO-A-CRISE-UNIVERSIDADE-DO-RJ-DEPENDE-DE-SALAS-DE-AULA-EMPRESTADAS-DE-ESCOLA.htm

O GLOBO: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/usp-fica-em-121-no-ranking-mundial-de-universidades-21449183

USP: http://www5.usp.br/institucional/a-usp/historia/

GELEDÉS: https://www.geledes.org.br/cotas-raciais-na-faculdade-de-direito-da-usp/?gclid=EAIaIQobChMItuf-v7nJ2gIVlgyRCh1RJwqxEAAYASAAEgK_9vD_BwE

JORNAL DA USP: http://jornal.usp.br/artigos/o-sistema-de-cotas-etno-raciais-adotado-pela-usp/

REVISTA EXAME: https://exame.abril.com.br/carreira/usp-cai-em-ranking-global-veja-as-melhores-universidades-do-pais/

ITAMARATY: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/mecanismos-inter-regionais/3672-brics

CAROS AMIGOS-Especial: Universidade: crise e desafios. Ano XVIII, n. 70, São Paulo: 2014.