O membro do Comitê Central do PCdoB e coordenador Nacional da ADJC (Movimento de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania), Aldo Arantes comentou como um grande prejuízo para o povo brasileiro, para os democratas e socialistas a morte em decorrência de um câncer de Duarte Pacheco Pereira.

“Duarte teve uma vida dedicada a luta do nosso povo, um homem sério e combativo. Viveu muitos anos na clandestinidade lutando contra a ditadura militar. Foi um destacado dirigente de Ação Popular, e um jornalista que jogou papel importante na revista Realidade no jornal Movimento, que teve um papel importante na luta contra a ditadura militar”, resumiu.

Mas, para Aldo, o amigo se destacou por ser um brilhante teórico marxista. “Fez críticas contundentes a visão dogmática e destacou com muita força a importante da dialética na análise da realidade concreta”, ressaltou.

E deputado constituinte lembrou que, em seu livro Repensando o Marxismo, lançado em 2016, pela editora Anita Garibaldi, ele destaca o fato de Lênin, na antevéspera da Revolução Russa, ter ido para uma biblioteca na Suiça para aprofundar seus estudos da dialética. “Um revolucionário russo de ação que compreendeu a importância da teoria e da dialética para compreensão da realidade concreta. Este é um sinal muito importante dos marxistas, a combinação de ação e prática”.

Evidentemente, Aldo não esquece o “papel decisivo” de Duarte no processo de integração de Ação Popular (AP) com o PCdoB. Ele relatou como no curso da luta interna que se deu em Ação Popular, Duarte tornou sua tese vitoriosa diante de uma corrente que defendia que deveria haver um processo de unificação de AP com PCdoB, mas sem definir em torno de quem. “Havia essa tendência de colocar AP e PCdoB num mesmo patamar. Foi essa tese que o Duarte questionou dizendo que, em havendo uma corrente claramente marxista-leninista, cabia à Ação Popular se unificar em torno do PCdoB. E essa tese foi vitoriosa”.

Mesmo não se filiando após a integração, Aldo faz questão de salientar que Duarte sempre foi solidário e próximo das posições do Partido. “Neste momento, temos que manifestar nossa solidariedade e reconhecimento do papel que ele teve e que pela sua obra e exemplo de vida vai continuar tendo”, disse ele, expressando solidariedade aos familiares e sua esposa Regiane, “que esteve ao lado dele o tempo todo, uma mulher progressista que sempre esteve identificada com ele nos momentos de dificuldade”.

Tanto que se manteve a relação afetiva e que se estabeleceu no curso da vida entre Haroldo Lima, Aldo Arantes e Renato Rabelo com Duarte, “os quatro que jogaram papel nessa unificação de AP com PCdoB”. Mesmo depois de Haroldo falecer [no último dia 24 de março], ele diz que continuou visitando-o com Renato.

Mas a proximidade maior de Duarte era com Haroldo, por ambos serem baianos. Segundo relata Aldo, Duarte não participou do processo anterior de formação de AP, mas esteve no Congresso fundador, onde começaram a convivência. Foram dirigentes num momento de semiclandestinidade em que Haroldo ainda estava na Bahia e Aldo e Duarte já atuavam em São Paulo. “Ele era o teórico que elaborava os documentos de Ação Popular e jogava um papel fundamental nas reuniões e no processo de elaboração política. Perdemos um pouco a proximidade depois do AI-5, quando fui para o interior de Alagoas, mas depois da Anistia voltamos a nos frequentar”, explicou.

Aldo avalia que o legado teórico de Duarte poderia ser ainda mais prolífico se não fosse tão perfeccionissta. O estilo rigoroso teórico e político dele “limitou um pouco a produção e capacidade de elaboração dele”. “Ele era um homem brilhante que encantava todo mundo com suas conferências, mas tinha uma busca pela perfeição e rigor que acabava limitando a produção dele. Além disso, ele viveu numa situação material muito difícil. Mesmo com tudo isso, ele deixa um legado importante para todos nós”, concluiu.

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