Órgão vinculado ao Ministério da Educação e Cultura, o Iseb, criado em 1955, começou efetivamente a funcionar em 1956 no governo de Juscelino Kubitschek. Essa experiência constituiu-se em oportunidade única de realizar a conjunção entre os esforços de sistematizar o conhecimento da realidade brasileira e a experiência de edificação do desenvolvimento nacional.

Constituído por intelectuais que tinham em comum o fato de haver apoiado Getúlio Vargas e as ideias nacionalistas e que buscavam uma interpretação própria do processo de desenvolvimento brasileiro, particularmente do período deflagrado pela Revolução de 1930, o Iseb procurou formular uma concepção que pudesse contribuir para a superação do subdesenvolvimento e possibilitar o desenvolvimento autônomo do país. Entre os intelectuais que participaram dessa experiência, destacam-se: Álvaro Vieira Pinto, Alberto Guerreiro Ramos, Cândido Mendes de Almeida, Domar Campos, Ewaldo Correia Lima, Hélio Jaguaribe, Ignácio Rangel, Michel Debrun, Nelson Werneck Sodré, Oscar Lorenzo Fernandes, Rômulo de Almeida e Roland Corbisier. Havia também políticos, como Tancredo Neves e Hermes Lima.

Em que pese às diferenças pontuais, o conjunto das formulações acenava para a ruptura com a condição semicolonial em que se encontrava o Brasil. Isso implicava não apenas estudar o processo de desenvolvimento econômico do nosso país, mas também propiciar uma conversão do país a si próprio. Daí o esforço no sentido da construção de uma ideologia ou teoria do desenvolvimento nacional. O desenvolvimento do país era a obra complementar da nossa independência política, ou, dito de outra forma, o país precisava da sua independência econômica e cultural para completar sua independência política. Esta tríade indissociável – autonomia econômica, política e cultural – constituiu o centro das elaborações do nacionalismo isebiano.

Em sua edição de número 162, prevista para ser publicada em julho de 2021, Princípios pretende divulgar artigos inéditos que resultem de pesquisas empíricas, como também ensaios teóricos que contribuam para a compreensão do movimento político-intelectual que se organizou no Instituto Superior de Estudos Brasileiros – Iseb a partir da segunda metade da década de 1950. O objetivo do dossiê é reunir estudos e pesquisas que favoreçam a compreensão do contexto histórico em que emergiu esse movimento e, principalmente, do seu papel como oficina do pensamento nacional-desenvolvimentista, contemplando as seguintes questões:

O contexto histórico em que emergiram o pensamento nacional-desenvolvimentista e o Iseb;
A questão nacional e os fundamentos das concepções teórico-metodológicas dos intelectuais do Iseb;
A relação da autodeterminação política da comunidade nacional com o problema da liberdade e do discurso filosófico;
A influência que o pensamento dos intelectuais do Iseb exerceu na formulação dos programas nacionais de desenvolvimento da época;
A atualidade do pensamento nacional-desenvolvimentista.

Partindo dessas questões como referência, espera-se que os artigos tratem de temas como:

A relação entre as transformações ocorridas na Era Vargas e as elaborações teórico-políticas dos intelectuais do Iseb;
A contribuição teórica e prática de Getúlio Vargas ao pensamento nacional-desenvolvimentista;
A contribuição específica proporcionada pelos intelectuais do Iseb ao pensamento nacional-desenvolvimentista;
Fatores que possibilitaram a unidade inicial do Iseb, apesar das divergências teórico-metodológicas;
Divergências que se manifestaram na “crise” do Iseb em 1958 e a “virada à esquerda”;
As contradições entre as ideias do Iseb e o Plano de Metas;
O nacional-popular na concepção cultural do Iseb e a relação com o Centro Popular de Cultura;
A relação entre a concepção elaborada pelo Iseb e as reformas de base;
As divergências entre os intelectuais do Iseb e os vinculados ao meio acadêmico representado principalmente pela USP;
O significado da concepção do Iseb no contexto do pensamento social brasileiro.
 

As temáticas sugeridas não são exaustivas e, portanto, não impedem que outras questões, pautas e abordagens pertinentes ao tema do dossiê sejam propostas e acatadas. 

A revista também aceitará contribuições de relatos de pesquisas, ensaios e resenhas com temáticas diversas, a fim de compor as demais seções da publicação, não diretamente relacionadas à temática do dossiê.

As contribuições devem consistir em textos originais e inéditos escritos em português ou traduzidos para esse idioma com autorização de seus autores e que estejam em conformidade com as normas da revista (disponíveis em anexo).

As contribuições deverão ser submetidas no endereço eletrônico https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios/about/submissions até o dia 30 de abril de 2021.