A cobertura da imprensa estrangeira sobre o 7S, focou principalmente no baixo efeito das manifestações bolsonaristas. Como o presidente colocou todas suas fichas nelas, o resultado foi considerado decepcionante diante das expectativas golpistas e violentas prometidas. As bravatas do presidente diante de uma plateia decepcionada foi o cenário mais descrito pelos jornais, diante de um presidente em desespero com a baixa popularidade, reeleição perdida e o país em frangalhos na economia e na pandemia.

Veículos de diversas partes do mundo estão alertas para os riscos que Bolsonaro representa para a democracia brasileira. Este clima exposto internacionalmente causa uma instabilidade no mercado financeiro, receoso diante dos riscos na política brasileira. Por outro lado, há o indicativo de que o Governo Bolsonaro se enfraquece e tem pouco foco na governabilidade, conforme se isola até entre seus aliados. O jornal britânico The Guardian chega a insinuar que o governo se encerrou antes do tempo.

Foi o The Guardian, também, que fez a descrição mais ridícula dos atos bolsonaristas ao reportar declarações absurdas dos manifestantes mostrando o nível de desinformação e desrespeito pela democracia que esses brasileiros apresentam abertamente. Diante do isolamento, por outro lado, vários veículos observam como o enfraquecimento de Bolsonaro sinaliza um avanço das forças democráticas em torno do impeachment. Assim, a expectativa em torno dessa reação progressistas se torna fundamental internacionalmente para definir como ficará a imagem do Brasil lá fora, assim como ocorreu com os EUA diante da crise eleitoral que instaurou, saindo profundamente derrotado.

Londres: fim de feira

O jornal britânico The Guardian traz um título catastrofista ao falar em fanáticos incitando pelotões de fuzilamento e golpes”. No entanto, o clima tenso revela que o governo Bolsonaro parece ter encerrado seu governo antes do tempo.

A gritaria da reportagem se justifica pelas declarações extremistas dos manifestantes bolsonaristas, que fizeram questão de garantir sonoras de fuzilamento de ministros da Suprema Corte e senadores esquerdistas. Para eles, Bolsonaro devia fazer isso e dormir tranquilo, depois.

O tom da cobertura dos britânicos foi de radicalização dos apoiadores, apesar das tentativas de organizadores de imprimir um tom moderado em defesa da liberdade de expressão e contra abusos judiciais. A descrição das faixas e discursos é de uma manifestação prestes à tomada do poder por um golpe militar, o que passou longe de ocorrer.

Após mostrar manifestantes que consideram Bolsonaro o presidente perfeito, por sua brutalidade na luta contra a corrupção (sic), sem acreditar que ele possa perder as eleições, o jornal menciona a intenção de voto, atual, que já garante a derrota à reeleição. Por isso, mesmo, a manifestação do 7 de setembro é descrita como “uma tentativa desesperada de ressuscitar a reputação decadente de um político cuja presidência está perdendo força rapidamente, em meio à fome crescente e aos problemas econômicos”.

A reportagem ainda traz análises de parlamentares de esquerda que apontam para o risco do país ter chegado a tal nível de fanatismo e radicalidade no eleitorado.

Madri: decepção bolsonarista com discurso

El País foi o jornal que já traz manifestação do PSDB, considerado um partido de direita, em relação a possibilidade de apoiar um impeachment de Bolsonaro, após estas manifestações de 7 de setembro. A reação dos tucanos seria consequência do tom antidemocrático do presidente e seus discursos à multidão em Brasília em São Paulo.

Segundo o jornal espanhol, os atos desta terça são vistos no exterior como “insurreição” que coloca em perigo a democracia do Brasil e ex-presidentes e políticos de 26 países assinaram uma carta em alerta à situação.

O jornal foi o único que manteve uma cobertura intensiva dos protestos, mostrando as reações políticas. O MDB, maior partido, teria se juntado ao coro dos descontentes em nota oficial que enfatiza a desconexão da agenda de Bolsonaro com os problemas do país.

Apesar do incentivo à violência e armas na manifestação por parte de lideranças bolsonaristas, o efeito pouco explosivo dos atos levou-os, acuados, a acabar enfatizando o caráter pacífico dos manifestantes. Segundo o jornal, a expectativa dos manifestantes por um discurso de força e golpe militar por Bolsonaro acabou frustrando a todos, que dispersaram, em São Paulo, logo após Bolsonaro sair.

Nova York: Donald Trump das bananas

O New York Times descreve as manifestações deste 7 de setembro como uma tentativa de Bolsonaro criar um clima de turbulência política para dificultar o processo eleitoral em que já se vê derrotado, comparando-o a Donald Trump. Relembra as declarações recentes do presidente, em que insinua a vontade de tomada do poder pela força.

A reportagem, no entanto, aponta que as instituições democráticas no Brasil são mais frágeis para enfrentar o tipo de ataques que Trump promoveu em Washington.

Entrevistas com apoiadores mostram que eles traduzem falas de Bolsonaro sem eufemismos. Quando Bolsonaro diz que os ministros do Supremo “podem sofrer consequências que ninguém quer”, os apoiadores dizem que é preciso fechar o Tribunal para deixa-lo governar. Por outro lado, o jornal americano lembra que a base governista é formada por militares e policiais, que são usados como uma ameaça pelo presidente. Os críticos de Bolsonaro temem que tal retórica possa levassem à violência política, incluindo ataques ao tribunal de Brasília. Até o momento, as manifestações ocorrem de forma moderada.

A reportagem ainda diz que as manifestações dificultam a confiança dos investidores internacionais, tornando mais difícil a recuperação econômica do país.

Paris: a ameaça desarmou-se

O Le Monde também descreveu os atos como uma tentativa de ultimato ao Judiciário. Comparou a tentativa dos manifestantes de invadir o STF, ainda na noite de segunda-feira (6), com os ataques ao Capitólio, em Washington. Os franceses também mencionaram o clima contra o processo eleitoral que Bolsonaro fomenta, ao requerer que cada voto eletrônico seja validado com um recibo impresso, a fim de permitir a recontagem dos votos em caso de disputa, o que o próprio jornal menciona que “favorece justamente a fraude”. 

O correspondente no Brasil, Bruno Meyerfeld, viu nas procissões em apoio à política de Bolsonaro uma série de reservistas do exército, pessoas pró-armas, evangelistas e até monarquistas. O alerta da reportagem ficou para a possibilidade de distúrbios violentos, considerando que 30% das forças policiais pretendiam participar das manifestações, apesar da proibição da corporação. Como isso não se confirmou até o momento, as manifestações perdem o impacto temido.

Mas ele também descreveu as manifestações pelo impeachment de Bolsonaro, enfatizando o desastre na gestão da pandemia, da economia e das relações institucionais. Segundo a reportagem, Bolsonaro nunca teve tanta rejeição eleitoral quanto agora.

Buenos Aires: Rumo ao impeachment

O La Nacion trouxe uma ampla cobertura das manifestações, tentando cobrir todos os aspectos. Após pontuar as declarações de Bolsonaro contra o STF e suas “prisões políticas”, o jornal também destaca a reunião do presidente do PSDB, Bruno Araújo, para discutir o impeachment. Assim como o partido de direita, – que dizia que não havia clima para isso, sentiu o calor do golpe -, o processo de impedimento só faz ganhar adeptos, antes reticentes.

Os argentinos também mostraram a importância das manifestações de esquerda em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores. Mostrou ainda a contradição entre o discurso falsamente moderado de Bolsonaro e os slogans violentos e antidemocráticos de seus apoiadores.

Numa segunda reportagem, La Nacion descreveu Bolsonaro como um “conspirador golpista”, de acordo com a grande imprensa brasileira. “A imagem do dia é um presidente descontrolado, jogando tudo ou nada”, diz a jornalista Janaína Figueiredo. Ela descreve a agenda atual de Bolsonaro como a desistência de governar para fazer campanha eleitoral.

Janaína, no entanto, chama atenção para o fato de que a expectativa, agora, está posta nos interessados numa democracia sólida e estável (Do STF, do Congresso Nacional, dos principais partidos políticos e lideranças do país, dos empresários e, também, da comunidade internacional). Segundo ela, a presença do vice-presidente Hamilton Mourão, e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto nos atos, causa mal estar entre os militares, também.

Ela destaca que o 7 de setembro não foi apenas mais um dia de bizarrices bolsonaristas pedindo intervenção militar. “Foi o dia em que o presidente chamou um juiz da mais alta corte do Brasil de canalha e prometeu desobedecer às suas decisões”, escreveu.