O terceiro debate do Seminário Guerra Cultural e Luta Ideológica falou sobre as facetas dessa guerra, o uso do lawfare, termo utilizado para o uso do direito na política, os prejuízos psicológicos das fake news e como o termo Guerra Cultural tem cunho de extrema direita e precisa parar de ser utilizado. Quem proporcionou essas reflexões sobre os temas expostos foram a advogada Lorena Freitas, o psicólogo social, Marcos Ferreira, e o neurocientista Sidarta Ribeiro, com a mediação de Mariana Moura, do Instituto Cláudio Campos.

Sidarta abriu a conversa falando sobre a armadilha evolutiva em que nos encontramos e alertando sobre como as mentiras são mais propagáveis na internet que as verdades e como a febre das fake news tomou conta do planeta. “Isso está acontecendo, em parte, porque nosso cérebro evoluiu e passou a detectar novidades e estímulos muito exagerados. As pessoas querem novidades e estão viciadas em estímulos permanentes que se tornam perigosos, à escala planetária, tornou isso uma Torre de Babel da mentira”, explicou. Segundo ele, a única maneira de sair disso é questionar, pensar fora da caixinha e modificar o jeito de estar no mundo. “Há muitas camadas de ilusão e para que tudo funcione é preciso muita mentira. Ou a gente desfaz essa arapuca cultural ou daqui a pouco não terá mais solução. As pessoas não estão juntando ‘lé com cré’”, disse o neurocientista.

A advogada Lorena Freitas trouxe em sua fala o que é lawfare ou guerra jurídica e explicou que é mais uma faceta da Guerra Cultural. “O direito não pode ser visto nem desconectado da política, nem da nua realidade cultural. A visão crítica dos fatos é indispensável para colocar freio ao cenário de inversão de consciência que se instalou”, explanou. Para ela, há uma crescente das chamadas guerras híbridas, que são diferentes das guerras armadas, e que se dão pelo planejamento estratégico, operando em uma variedade de formas que são mais atrativas e eficazes, tendo o direito um papel fundamental nessa estratégia. “A lawfare ou a guerra jurídica usa a legislação para perseguir e atacar politicamente adversários dentro da estratégia de hegemonia. O direito não é a luta como deveria ser e, sim, como concretamente é”, elucidou.

Já o professor Marcos Ferreira falou sobre a formação de ideias e teorias que hoje permeiam a nossa política. Segundo ele, há máquinas de formar consensos e não ligamos para elas, citando alguns veículos de imprensa. “Nós compramos uma ideia em 2018 que havia uma onda inelutável de extrema direita no planeta e isso abalou as pessoas e houve um desânimo coletivo, que levou à atual situação que enfrentamos, mas que de fato não se concretizou, como provam as eleições em Portugal, Espanha e outros países. Ferreira atentou para um grande problema que, se não for corrigido a tempo, pode prejudicar uma vitória da esquerda na próxima eleição: a falta de enfrentamento no campo das fake news. “Há um coletivo para o qual precisamos chamar a atenção, que são os organizadores e dirigentes políticos. Pesa nos ombros deles uma responsabilidade enorme, pois não há uma coordenação de resistência para a avalanche de fake news e manipulação, o que acarreta a perda do enfrentamento”. O professor disse, ainda, que não podem chamar o combate da esquerda de Guerra Cultural, porque tanto o nome quanto o significado estão ligados à direita, são termos cunhados por eles. “O que o seminário e o livro fazem é um processo civilizatório humanizador, organizado, com gente responsável nas direções dos nossos partidos, capazes de nos dar orientação e linha e trazer as pessoas para uma visão de solidariedade”, explica.

Em mais um debate de alto nível e cheio de fatos e ideias que fazem pensar, o que fica latente é a diferenciação de como a direita elitista que está no poder trata o povo, tentando mudar a sua essência e formatando-o ao que consideram um padrão apropriado, em vez de estudar, valorizar as individualidades e dar voz para a parcela da população que mais tem sofrido com essa polarização política, econômica e social que vivemos, como disse o professor Ferreira. A luta é buscar o mínimo denominador comum para que haja união em torno de uma agenda positiva para o país no pleito de 2022, como reiterou Sidarta.

Assista abaixo na íntegra