VIAGEM

 

Há olhos que só olham o sonho; e, quando
o sonho se dissipa, ficam cegos.

 

Há pontes por onde não se passa, no inverno,
embora ninguém as guarde: pontes
sem arcos, abstractas como um arco-íris
e frias como a chuva da madrugada.

 

Um campo de erva que amadurece;
feiticeiro fútil dos faróis quando a manhã
limpa as últimas névoas;
um bater de pálpebras como asas:

 

imagens que lembro

 

e me restituem os olhos
com que avisto a entrada da cidade. 

 

Nuno Júdice – fonte: http://vita-gotasdepoesia.blogspot.com.br/