O mar é
o Lúcifer do azul.
O céu caído
por querer ser a luz.

    Pobre mar condenado
a eterno movimento,
havendo antes estado
quieto no firmamento!

   Mas de tua amargura
te redimiu o amor.
Pariste a Vênus pura,
e ficou-te a fundura
virgem e sem dor.

   Tuas tristezas são belas,
mar de espasmos gloriosos.
Mas hoje em vez de estrelas
tens polvos verdosos.

   Agüenta teu sofrer,
formidável Satã.
Cristo velou por ti
como também o fez Pã.

   A estrela Vênus é
a harmonia do mundo.
Cale o Eclesiastes!
Vênus é profundo
da alma…

… E o homem miserável
é um anjo caído.
A terra é o provável
Paraíso perdido.


Obras completas Federico Garcia Lorca
Editora Universidade de Brasília – 1987
Martins Fontes 1989
Tradução William Angel de Melo