Dos ermos, dos escondidos, dos grotões do sertão, de onde vim. Áspero sou, sempre fui, feito a terra, a pedra quente, cortante, os espinhos, a caatinga abusada, agressiva. Sou sertanejo. A falta de água, fluida, mineral, amolecente, talvez tenha me feito de dureza, dessa pedra, dessa madeira dura que aparento. Sou sertanejo.

      Mas talvez também por sertão é que vez por outra, para poucos, convivas mais íntimos, me abro em flor, cantante, musical, versos que se alam e buscam cor e mel pelos ermos da caatinga. Sou sertanejo.

      Agora mesmo, agosto incendiando o calendário, anunciando os bros de fogo que fecharão o ano, desmancho-me todo em ternura, olhos marejados buscando lado e outro da estrada. Procuro os ipês-rosa, já quase idos, que desde junho embelezam a paisagem. Tabebuia dos meus mais antigos, abundaram em julho e agora rareiam, fugindo aos olhos, visguentos na minha memória. 

      Busquei imobilizar alguns, para lembrar vez ou outra, para dividir com um compadre, uma dama, presentear os meus poucos que me aturam zanga e rabugice.
Na caatinga dura, agressiva, jeito de inimiga aos estranhos, a árvore imensa, toda feminina, desfaz a má impressão. Por isso quis capturá-la, por identidade com o chão e o sol. Sou sertanejo, ipê-rosa da caatinga.