companheiro
(o companheiro não responde)
depois de tanto medo
certo um abraço não vai fazer mal
ao país companheiro
tão solto agora que dá gosto
da farinha os mesmos somos
da história lida relida nos jornais
velhos como quem diz que tem vida

(o companheiro não ouve)
não tem cronologia possível
sou eu
está preso às noites e noites e noites
isso não vai ser notícia ninguém vai saber
de manhã na praça joão mendes
o povo ainda tem fome televisão carnê
companheiro ainda tem você
dois passos atrás para o seu bem
você pode andar de novo
lênin tinha fogo no rabo

(o companheiro não escuta)
companheiro sou eu
na esquina um relógio grande faz tempo
não pode andar
é a senha
vamos acertar os ponteiros
ali exatamente vai cair uma estrela
depois outra eu sei onde está
o segredo
faça um pedido
vamos poder mijar juntos
mordendo os lábios na rua
respeitosamente entre senhoras
nus vamos fazer outra história
sem rugas olheiras
é cedo onde você nasceu brasileiro

(o companheiro está surdo
de tanta porrada não vê sangue
no escuro)
companheiro
depois de tanto medo
é certo
não somos os mesmos

marxengels
eles
eleninfern
izaram
nos
osAnjos
nus
amaram
filos
o/fiaram
newman

 

Versos Ilegais – Ricardo Albuquerque
Águas Brasileiras Editora – edição 2001