A vida, a que não tens e tanto buscas,
terás, se te entregares à poesia;
se andares entre as pedras, as mais bruscas,
da escarpa a que te leva a rebeldia;

as luzes da razão e o próprio dia,
o coração que pulsa, se o rebuscas,
no eterno… Ou pulsa um deus que em ti havia?

Que pobre o teu sentir, se não te salvas
perdendo-te de vez nas terras alvas
que chamam da mais alta das estrêlas.

Se a tanto te ajudar o engenho e arte,
ao impossível possas elevar-te
subindo em emoções, mas por vivê-las.

 

Afonso Felix de Sousa
Antologia Poética
Editora Leitura S.A. – edição 1966