Um camarada que acredita naquela máxima de “cada um fazer a sua parte”, de tanto falar para seus alunos sobre o efeito estufa, resolveu ele mesmo dar o exemplo e passou a ir ao trabalho de ônibus, deixando o carro em casa. Nesses últimos dias frios de inverno em São Paulo, passou a se incomodar ao perceber que as janelas do ônibus ficavam todas fechadas, podendo trazer problemas respiratórios, e assim, ao tentar abrir uma janela para que o ar pudesse circular, quase foi literalmente agredido por um grupo de jovens que reclamavam do frio, pois estavam todos de camisetas de grife, mas sem agasalho. Ainda durante o trajeto, surpreendeu-se ao ver que os mesmos jovens brincavam de fotografar uns aos outros com celulares que “custam uma nota” e dariam para comprar no mínimo uns quatro agasalhos decentes cada um. Não vou fazer julgamento.

      Por vários dias resisti em dizer o quanto senadores e bois são elementos interessantes para uma crônica, mas como não disse, agora não digo.

      Por minha conta e por nada, lembro-me da dona Olga, uma senhora que costumava conversar com a televisão, dizendo boa noite ao Jornal Nacional e recomendando à vilã da novela que não fosse tão perversa. Se por acaso eu fosse tomado por alguma onda de “transformar o mundo”, embora, em casos como o dela não exista nenhum grande prejuízo econômico, social ou ético, eu lhe diria: “Dona Olga, dona Olga: Novela é ficção e ficção não é a realidade. Então, ao ouvir estas palavras, certamente ela daria um grande muchocho, achando-me um grande pernóstico, e isso, só com o canto dos olhos.

      Depois do acidente com o avião da TAM, inúmeras vezes ouvi no noticiário que a reforma no terminal de passageiros do Aeroporto de Congonhas “custou uma nota” e transformou aquilo num Shopping Center, mas não vou fazer julgamento.

       Aliás, por que o Governador José Serra não tinha tanta disposição pra dar entrevista durante o acidente com a linha amarela do metrô? Deixa pra lá. 

      Por minha conta e por nada (outra vez) lembro-me de quando eu trabalhava na fábrica. A gente saía de manhã, depois de ter trabalhado a noite toda, direto para o bar da esquina: tomar pinga e comer pastel de camarão. Nunca ninguém encontrou camarão naquele pastel, mas o dono do estabelecimento justificava: “tem uns que gosta, outros não gosta, então revolvi não por”.

      Pra terminar, lembro de uma coisa importantíssima que aconteceu ainda nesta semana: Uma moça que trabalha comigo achou um gatinho na rua e levou pra casa. Noutro dia se deu conta que a mãe havia jogado o gato fora. “Gato vira-lata não tem vez, a mãe queria um gato Irlandês”.

      Não há o que ficar pensando leitor, pois as únicas coisas que importam neste discurso descabeçado são os meninos do ônibus, o gato vira-lata e a dona Olga. Os meninos estão por aí, passando frio e divertindo-se com telefone celular; o gato deve estar por aí, jogado pela rua revirando lixo; e a dona Olga já adormeceu nos braços de Orfeu.