Candelária,
Carandiru,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás…

Há cem anos
Canudos,
Contestado,
Caldeirão…

A pedagogia dos aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia…

Há uma nação de homens
                             excluídos da nação.
Há uma nação de homens
                             excluídos da vida.
Há uma nação de homens
                             calados,
                             excluídos de toda palavra.
Há uma nação de homens
                             combatendo depois das cercas.
Há uma nação de homens
                             sem rosto,
                                     soterrado na lama,
                             sem nome,
                                     soterrado pelo silêncio.

Eles rondam o arame
das cercas
alumiados pela fogueira
dos acampamentos.

Eles rondam o muro das leis
e ataram no peito
uma bomba que pulsa:
o sonho da terra livre.

O sonho vale uma vida?
Não sei. Mas aprendi
da escassa vida que gastei:
a morte não sonha.

A vida vale um sonho?
A vida vale tão pouco
do lado de fora da cerca…

A terra vale um sonho?
A terra vale infinitas
reservas de crueldade,
do lado de dentro da cerca.

Hoje, o silêncio pesa
como os olhos de uma criança
depois da fuzilaria.

Candelária,
Carandiru,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás não cabem
na frágil vazilha das palavras…

Se calarmos,
as pedras gritarão…

Poema escrito para denunciar o massacre dos trabalhadores sem terra em Eldorado dos Carajás, em 1996.