Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta
que denuncia a paz dos cemitérios
e a paz dos lucros fartos.

Dá-nos a Paz que luta pela Paz!

A Paz que nos sacode
com a urgência do Reino.
A Paz que nos invade,
como vento do Espírito,
a rotina e o medo,
o sossego das praias
e a oração de refúgio.

A Paz das armas rotas
na derrota das armas.
A Paz do pão da fome de Justiça,
a Paz que se faz “nossa”
sem cercas nem fronteiras,
que tanto é “Shalom” como “Salam”,
perdão, retorno, abraço…

Dá-nos a tua Paz,
essa Paz marginal
que soletra em Belém
e agoniza na Cruz
e triunfa na Páscoa.

Dá-nos, Senhor, aquela Paz inquieta,
que não nos deixa em paz!
 

Pedro Casaldáliga
Versos Adversos – Antologia
Editora Fundação Perseu Abramo – 1ª edição, 2006